20160703091348779398oBrasília, 04 de julho – Para um país que se ressente da falta de mão de obra especializada, desperdiçar capital humano custará ainda mais quando a economia voltar a crescer. “Esse é um dos piores males da recessão e do desemprego”, diz o economista Bruno Ottoni, especialista em mercado de trabalho do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). Os desocupados deixam de acumular experiência profissional, ficam desatualizados e perdem produtividade. “Em um mundo competitivo, isso significa dizer que ficaremos para trás mais uma vez”, acrescenta.

Os efeitos negativos da crise econômica serão sentidos por anos, reconhece Ottoni. Na construção civil, por exemplo, que tem peso importante para a indústria e os investimentos, a reação será lenta e gradual. Há muita ociosidade, obras paradas e imóveis prontos encalhados. “Não por acaso, os engenheiros encontram dificuldade para encontrar trabalho quando saem da universidade”, destaca. “E vão continuar encontrando, pois estamos longe de uma recuperação consistente da atividade.”

O quadro está tão dramático, acrescenta o economista da FGV, que, além da dificuldade de conseguir uma vaga no mercado formal, os brasileiros que conseguem emprego estão ganhando menos. Pelas contas dele, o salário médio dos que têm sido contratados está, em média, 15% abaixo da remuneração de quem foi dispensado. O cálculo leva em conta os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. “A mudança desse cenário passa pela retomada do crescimento econômico. Mas as previsões apontam que esse processo será lento”, diz.

Ottoni estima que o desemprego, que está em 11,2% da população ativa, chegará a 12,5% em dezembro próximo e a 13% ao longo de 2017, previsão considerada otimista por muitos analistas, dado o estrago que se vê na economia. A perspectiva é de que a taxa ainda avance até os 14%, apesar de muitos analistas preverem um 2017 melhor, com crescimento econômico de até 2%. Cada ponto percentual a mais na taxa de desocupação significa pelo menos 1 milhão de novos desempregados. Um filme de terror que ainda assustará muita gente.